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E nem sossegarei

 


Nessa semana que passou finalmente conheci a Gabriela Prioli (nunca tinha visto só ouvido falar!) e a Rita Von Hunty. Personalidades diferentes, mas com um intelecto curioso e ávido por respostas. O que elas têm em comum? Além de professoras e com expertise em política, dentre outras coisas... O hábito da leitura.

 A live da Gabriela Prioli para o perfil da digital influencer Silvia Braz (Clica AQUI) foi um espetáculo literário no qual não paro de pensar. A advogada durante a live deixou muito claro que a diversidade de estilos literários, autores, temas e áreas ajudaram em seu processo de construção intelectual. A prática da leitura para muitos ainda é vista como algo “chato e tedioso”. Por outro lado, pode ser também um hobby, só que não está acessível a todo mundo.

A internet possibilita o acesso aos mais diversos livros em distintos formatos (audiobooks, .pdf, ebook, etc.) e idiomas e em qualquer parte do globo. Porém, em nosso país 45, 960 milhões de pessoas (25% da população com 10 anos ou mais de idade) são excluídos digitais (Fonte: PNAD Continua TIC, 2018 - IBGE). Você então pode pensar: Mas temos os livros impressos! Sim temos. Com os mais diversificados valores, inclusive gosto de comprar no Estante Virtual (uma rede de sebos online,viu ai? Internet!). Infelizmente para uma parcela da população comprar um livro é sinônimo de comprar um artigo de luxo, e dessa parcela posso relatar uma vivência do que afirmo, mas terei que voltar no tempo (alguns anos).

Mas para isso preciso confessar que nem sempre fui uma leitora ávida e apaixonada, capaz de viajar em cada página. Tive que encontrar o livro certo, com a história perfeita que me ensinou a ler. Não digo ler no sentido “ca + sa =casa”, mas capaz de me fazer enxergar a paisagem, sentir o frio na barriga da aventura, chorar com a despedida, vibrar com a vitoria, e por ai vai. Essas são algumas das possibilidades que uma boa leitura causa em você. Se você está se perguntando que livro milagroso foi esse, eu respondo: “A marca de uma lágrima” de Pedro Bandeira, meu primeiro livro (tinha 13 anos). Lembro perfeitamente do dia em que o encontrei. Convoquei o meu pai e fomos a todas as livrarias de Natal, basta dizer que demandou uma tarde inteira dedicada na caça ao livro. E achamos apenas um espécime (um único volume). Meu pai apesar de cansado foi comigo atrás daquele livro, decidido que encontraria. E por que ele faria isso? Ele é obcecado por livros? Não, ele apenas queria que a filha tivesse a oportunidade de ter e ler livros, já que ele não teve.

A realidade do meu pai é a mesma de muitos jovens no nosso país, o tempo passou e estamos em um novo século, mas esse cenário é mais comum do que gostaria. Meu pai adora ler, sempre gostou e conseguia os volumes na biblioteca pública e depois na Biblioteca da ETFRN (CEFET para mim, IFRN para o meu irmão). Um dia encontramos o livro de desenho técnico dos tempos da Escola Técnica, e com o semblante de quem lembra que a disciplina não foi fácil disse: Esse foi o único livro que comprei quando estudava, porque tinha que aprender e então minha mãe conseguiu com muito sacrifício. Desde então meu pai nunca negou um livro a mim ou meu irmão. Meu irmão troca os livros que já leu, ou doa (eu mesma doei vários para a biblioteca da UERN). Mas como essa pandemia como os estudantes podem acessar os livros nas bibliotecas? Os que possuem internet, certo. E os que não tem?

Na live extraordinária da Rita Von Hunty para o Levante da Juventude (AQUI) ela citou o texto “Tarefas da Juventude Comunista” do russo Lênin (disponível onde? Internet). Para alguns um texto comunista de 1920, mas para mim uma leitura atual que completará 100 anos em outubro. Eu me permiti esquecer a palavra comunista presente diversas vezes no texto. Tentei entender o que o autor queria passar, sem partidarismo e sem extremos. E concordo quando ele fala que o povo deve ter acesso a educação, não aquela livresca e decoreba, mas a aplicada a que auxilia na resolução do problema e faz a economia funcionar e sociedade um ambiente democrático. A leitura deve estar disponível a todas as classes, a educação não pode, e não deve ser, para poucos.

“E NEM” havia pensado ainda em como se daria o ingresso as universidades públicas por essas pessoas que não possuem acesso a livros e internet: Como elas estudarão para o ENEM? Como é a pergunta que estou me fazendo todos os dias. Como chegar a essas pessoas que estão em regiões remotas sem acesso a internet, sem condições financeiras para comprar livros quando a principal preocupação é ter uma refeição, em áreas isoladas (rurais, tribos indígenas, comunidades da periferia das capitais, etc). Para pensar nessa situação não precisa ter um partido algum, e sim compaixão. Eu encontrei algumas resolutivas como usar os ônibus escolares para levar acesso a internet aos alunos durante a pandemia (AQUI), por exemplo, mas há quem defenda a possibilidade de adiar o ENEM, como uma resolutiva nesse tempo de pandemia.

“(...) Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna, um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. (...)” e nem Bernardo Soares/ Fernando Pessoa  poderia prever tamanho desassossego literário em nossas vidas.

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